Se vivo estivesse, um dos grandes ídolos do futebol nacional, o atacante Mané Garricha estaria completando hoje 87 anos. Em Feira de Santana, ele esteve em algumas oportunidades jogando pelo Flamengo e fazendo partidas de exibição. O cronista esportivo Dilson Barbosa, um dos decanos do rádio feirense acompanhou de perto estas vindas do Mané a Princesa do Sertão, principalmente a última quando o craque passou praticamente uma semana na cidade onde fez partidas amistosas pelo São Paulo Amador e pelo Fluminense de Feira.
Barbosa lembra que na época, Mané Garrincha já estava quase encerrando a carreira e sempre era contratado para fazer algumas partidas amistosas de exibição em várias cidades do Nordeste e na época as direções do Fluminense de Feira e São Paulo o trouxeram para jogar dois amistosos. “Ele já enfrentava problemas com o alcoolismo e os dirigentes o colocaram hospedado no Hotel Solar Santana, Na época, seu Mário Porto era gerente de futebol no Fluminense e me incumbiu da missão de acompanhar o Garrincha para que ele não ficasse o dia todo no hotel tomando cachaça”, recorda. “Me lembro de seu Mário dizendo ‘Dilson, você tem que acompanhar ele porque se deixar a vontade, na hora do jogo vai estar bêbado e aí nem consegue jogar’. Peguei um Fusca 69 que eu tinha e fui para o hotel para de lá sair para passear com ele”, complementa.
O radialista conta que eles saíram rodando e pararam no bairro Estação Nova. “Onde hoje é o prédio da Justiça do Trabalho tinha um grande terreno onde era realizada a Feira dos Passarinhos e como Garrincha gostou sempre de pássaros levei ele para se distrair lá. Andamos, vimos vários passarinhos, mas ele estava querendo uma espécie que não me lembro o nome agora. Fomos pra lá, pra cá e ninguém sabia que o cara que estava comigo era o Garrincha”, conta Dilson Barbosa. “Rodamos, tudo e nada de achar o passarinho que ele queria, foi quando alguém nos disse que esse passarinho talvez achasse com um senhor que costumava ficar próximo a Ponte do Rio Branco e lá fomos nós”, complementa.
Barbosa e Garrincha foram para a zona rural, já quase chegando no distrito de Jaguara. “Eu não estava encontrando o local exato e aí tivemos que parar numa bodega para pedir informação foi a deixa para o Garrincha tomar a pinga. Eu já fiquei cabreiro, mas não podia fazer nada. Rodamos e mais adiante encontrei outra bodega e lá vai ele de novo tomar pinga. Finalmente achamos o senhor que não tinha o passarinho, porém nos garantiu que no outro dia poderíamos voltar que ele armaria o alçapão para apanhar o passarinho”, relatou.
Garrincha ficou uma semana em Feira e jogou duas partidas: na quarta-feira jogou pelo São Paulo Amador e no domingo pelo Fluminense de Feira. “Fiquei nessa de pajear o Garrincha durante uma semana e conseguimos achar o passarinho que ele tanto queria. Ele gostava tanto de pássaros que em 1958, quando ele foi campeão com o Brasil na Copa do Mundo, o presidente Juscelino Kubitschek o presenteou com uma gaiola e um passarinho dentro”, informou Dilson Barbosa.
FEIJOADA
Nessa passagem por Feira de Santana, Mané Garrincha ainda foi homenageado por um torcedor que lhe ofereceu uma feijoada. “O nome dele é Edvaldo, não sei por onde anda. Mas me lembro que ele era taxista e morava no bairro Jardim Cruzeiro e pediu a mim e a seu Mário (Porto) para fazer esta homenagem a Garrincha de quem era fã e concordamos. Levamos o Garrincha na casa dele e comemos a feijoada e registrei uma foto, onde está o Edvaldo com a esposa e um filho deles que deveria ter na época entre 8 e 10 anos, Mário Porto e Garrincha”, afirma. “Eu gostaria muito de reencontrar essa família para a gente resgatar esta história porque as vezes as pessoas podem dizer ‘Barbosa tá contando uma lenda’ e isso não lenda. Temos essa foto que poderia estar na sede do Fluminense porque além de Garrincha estar usando a camisa do clube, tem Mário Porto que foi uma legenda do esporte feirense. Eu, presidente do Fluminense teria esta foto em destaque na sede porque se trata de uma relíquia”, completou.
Por Cristiano Alves
Foto – Dilson Barbosa