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“O futebol brasileiro deve ser refletido de forma geral”, afirma Medina

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Com as atividades paralisadas por conta da pandemia do Covid-19, o futebol brasileiro deve passar por uma grande reflexão sobre o futuro. É o que pensa, João Paulo Medina (foto), executivo que tem 50 anos de vivência no esporte não só Brasil, mas em outros países espalhados pelo mundo e trabalhou em grandes clubes com verdadeiras sumidades do futebol nacional e também criador da Universidade do Futebol, que neste momento lidera debates sobre o futuro do esporte no país

De acordo com João Paulo Medina, a única certeza que existe é esta profunda reflexão sobre o futebol e não deve acontecer de forma isolada. “Infelizmente ainda vivemos num tempo de discrepância, uma desigualdade que vem através dos tempos e com a crise sanitária que vivemos, a situação piorou. No que pese a necessidade econômica nesse momento, o futebol tem que ser visto como todo e a solidariedade deve acontecer, não se pode pensar apenas pelos grandes. Acho que todos perdem quando pensam somente em si”, enfatizou o criador da Universidade do Futebol.

Medina acredita que as discussões sobre o futebol precisam ser mais abrangentes e se mostra contra a alguns conceitos criados e que reverberam a nível nacional. “Sou contra a colocações do tipo ‘quem não tem condições deve fechar as portas’. Se a gente pensar assim, muitos clubes, inclusive das Séries A e B tinham que parar as atividades também. Acho que o caminho é olhar o todo e buscar um diagnóstico que venha a gerar soluções benéficas para todos”, analisou.

CADEIA PRODUTIVA

João Paulo Medina acredita que o esporte deva ser enxergado como uma grande “cadeia produtiva” e dentro deste aspecto, o calendário nacional seja revisto. “Ora muitos clubes têm apenas três, quatro meses de calendário. Como desenvolver o futebol assim? Ai ficam trazendo a tona questões sobre os campeonatos estaduais, que acabam apertando muito para os clubes que têm calendário extenso. Poderia se criar mais datas, esticar o calendário para os pequenos e os grandes entrariam em fases decisivas, por exemplo. Mas isso é uma ideia”, pontuou.

Medina acredita que o calendário mais extenso para os pequenos também poderia ajudar na formação de novos talentos, inclusive nas divisões de base. “A realidade hoje é que muitos jogam apenas três, quatro meses e o resto do ano ficam desempregados, outros vão ser motorista de Uber, outros mecânicos até começar o outro ano. Tudo na vida é sequência, ou seja, é uma regra: para sermos excepcionais naquilo que fazemos precisamos praticar constantemente. Até mesmo nas divisões de base se torna complicado ‘garimpar’ valores com tão poucos jogos. Então, quando se partir para pensar é preciso se buscar a solução para o todo porque o futebol é uma cadeia produtiva, não existe o grande sem o pequeno”, salienta.  

Nessa pegada, Medina não vê empecilhos na criação de mais uma divisão no Campeonato Brasileiro. “Depende de como os dirigentes vão encarar o futebol a partir de agora. Dentro da busca de um diagnóstico e possíveis soluções, se o caminho for criar uma 5ª ou 6ª divisão nacional, por que não criar? Nada contra, desde que haja o entendimento, a união e a parceria entre os clubes e o futebol comece a ser pensado desta forma. Mas pelo que parece, os atuais dirigentes pouco se preocupam com estas questões e o resultado disso ´que estamos perdendo espaço para países menores não só a nível territorial, mas em termos de tradição futebolística também”, avaliou.

CURRÍCULO

João Paulo Medina vive no futebol a 50 anos e ainda muito jovem, no começo dos anos 70, iniciava a sua trajetória no esporte. Se formou em Educação Física iniciava a sua longeva atividade no futebol como preparador-físico da Portuguesa/SP. Pouco tempo depois, especializou-se em Técnica de Futebol pela Faculdade de Educação Física de São Carlos. Trabalhou como preparador físico da equipe principal da Associação Portuguesa de Desportos e da Associação Atlética Ponte Preta. Em 1974, juntamente com o Dr. Osmar de Oliveira, criou o Departamento Integrado de Futebol no Corinthians, sendo um projeto pioneiro para clubes, que promovia uma integração das diferentes especialidades do futebol.
Entre 1977 e 1979, junto de Rubens Minelli, participou ativamente do processo de estruturação e organização do Departamento de Futebol do São Paulo. Entre outras inovações, Medina sistematizou um processo alimentar para os atletas dentro do próprio clube, introduziu trabalho de musculação e implementou o uso da fisiologia esportiva aplicada ao futebol. Em julho deste mesmo ano, com Minelli, iniciou o trabalho de estruturação e organização nas seleções principal, júnior e juvenil na Federação de Futebol da Arábia Saudita.

Em 1983 atuou como preparador físico da equipe principal da Palmeiras. De volta a Arábia Saudita, organizou por três anos o Departamento de Futebol do Al-Hilal Club (Omdurman) de Riyadh, clube mais popular do país. No fim da década de 1980, planejou e coordenou a preparação da Seleção Brasileira de Futebol Master para o Mundial da categoria.

Medina ganhou destaque em 1991, ao ser indicado coordenador técnico da Seleção Brasileira, ao lado do técnico Paulo Roberto Falcão. Em 1993, voltou a trabalhar na Seleção de futebol da Arábia Saudita como responsável pela preparação física e coordenação de planejamento.

De 1994 a 1999, participou do projeto de futebol internacional integrado Special Olympics nos Estados Unidos, coordenou o setor técnico da equipe principal e categorias de base do São Paulo, como diretor executivo do Goiás Esporte Clube estruturou e organizou o Departamento de Futebol, foi coordenador técnico do Internacional, consultor e diretor executivo do Etti Jundiaí Futebol Ltda e responsável pelo planejamento do Al-Hilal Club (Omdurman).

No Internacional, entre 2000 e 2001, coordenou um projeto inédito no futebol gaúcho, com repercussão nacional, ao implantar processos interdisciplinares de trabalho, integrando as dimensões política, administrativa e técnica, com ênfase nos investimentos estratégicos nas categorias de base do clube, revelando inúmeros talentos para o mercado nacional e internacional; Medina foi durante bom tempo o centralizador das decisões futebolísticas do clube, na gestão do então presidente Fernando Miranda , mas com os maus resultados acabou canalizando contra si os desejos de mudanças na torcida. Na ocasião, foi profético: “”O que estamos fazendo no Inter não é para dar resultado agora. É para cinco ou seis anos””, o que de fato ocorreu; nas categorias de base surgiam nomes como Alexandre Pato e Nilmar. Seu nome chegou a ser cogitado, em 2004, para trabalhar na equipe rival, o Grêmio.

Já em 2002, como diretor executivo técnico do Santos, iniciou o processo de organização do seu Departamento de Futebol. Em 2003 idealizou a “Cidade do Futebol”, projeto de levar para a internet os principais especialistas do futebol. Passou a se chamar Universidade do Futebol, em 2009. De 2003 e 2006, atuou nos clubes Ittihad FC e Al-Hilal Club (Omdurman), ambos na Arábia Saudita.Foi professor em diversas instituições universitárias, entre elas UNICAMP e PUC-Campinas. O seu trabalho mais recente foi no ano passado, quando prestou consultoria ao Athlético/PR, campeão da Copa do Brasil, que tem vaga garantida na Taça Libertadores da América de 2020.

Por Cristiano Alves

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