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Ocimar Bolicenho: “executivos de futebol, não são milagreiros”

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No momento de reflexão no cenário esportivo brasileiro, cada vez mais é evidente a necessidade de profundas mudanças na forma de se pensar o futebol e um dos desafios é justamente acabar com estigmas existentes há muto tempo no que tange a forma de administrar as equipes. Foi nesse sentido que um grupo de executivos criou a Associação Brasileira dos Executivos de Futebol (Abex) e o seu primeiro presidente foi o paranaense Ocimar Bolicenho cujo currículo registra passagens por diversos clubes brasileiros. Para ele a mudança é fundamental para a sobrevivência de diversos times espalhados por todo o território nacional.  

O paranaense de 62 anos iniciou a trajetória no esporte no meio dos anos 80 como diretor do Esporte Clube Pinheiros-PR que se fundiu ao Colorado-PR em 89 e virou o Paraná, no qual teve vários cargos (de 85 a 95 e 2000 a 2002), incluindo a presidência. Fora do esporte exerceu a função de analista de controle administrativo do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (1994 a 2011) e subgerente de agência no Banco Bamerindus. “Eu era diretor amador e mantinha as minhas funções de servidor público. Quando me aposentei, virei um executivo e passei a trabalhar em vários clubes”, explicou.

Como responsável pelo futebol, Ocimar teve passagem por Joinville, Marília e Santos, no qual trabalhou com o técnico Vágner Mancini. O time alvinegro, que viu Neymar e Ganso despontarem, foi vice-campeão paulista de 2009, perdendo a final para o Corinthians de Ronaldo Fenômeno. Ele ainda passou por Athletico Paranaense, Ponte Preta, Bahia, Tigres do Brasil e Londrina, clube no qual permaneceu entre 2016 e 2019. Seu trabalho mais recente foi no Cruzeiro, mas infelizmente o clube mineiro foi rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro.

Ocimar Bolicenho fez cursos, se especializou em gestão e esportiva e faz parte de um grupo que busca consolidar a profissionalização como a grande alternativa de sobrevivência no futebol brasileiro. “O que temos hoje é uma profissionalização parcial, ou seja, se tem jogadores, técnicos e outras pessoas envolvidas no contexto como profissionais, porém a forma que os clubes são administrados em sua maioria é amadora com pessoas muitas vezes despreparadas, sem know-how e conhecimento suficientes para estar a frente de uma equipe”, explicou. “O que a nossa associação prega é justamente a presença de pessoas qualificadas com capacidade de executar projetos a médio e longo prazo em consonância com todas as hostes na agremiação. Infelizmente muitos dirigentes estatutários enxergam o executivo como ameaça e isso atrapalha demais o andamento das coisas e os resultados devem demorar em acontecer”, complementou.

O VAI E VEM

Ocimar Bolicenho explica que os executivos de futebol não são milagreiros. “Não adianta se contratar um gestor, se o clube não tem estrutura física adequada, se suas contas não estão em situação de controle, se não tem uma estrutura administrativa delineada para que seja feito então o projeto. O gestor, nada mais é do que o executor do projeto criado em consonância com os dirigentes estatutários que precisam dar ‘carta branca’ para que seja feito na prática o projeto. Antes de qualquer coisa tem que acontecer isso para que a partir daí se desenrolem as coisas”, afirmou

No entanto, o dirigente vê a falta de autonomia como um grande entrave para o trabalho dos executivos de futebol. “A gente entra na questão das vaidades, ou seja, o futebol coloca em evidência, pessoas ou uma pessoa e isso gera problemas do tipo ‘quem manda sou eu!’. Na verdade, o executivo ele coordena o processo de execução, a palavra final não é dele, as decisões devem acontecer em comum acordo, mas os dirigentes não entendem  assim e acabam metendo os pés pelas mãos: dois três resultados negativos são o suficiente para desmancharem o planejamento, ajustar dentro de uma competição e isso movido pela paixão de torcedor, pela influência da torcida que não sabe como se dá o processo, os bastidores. Para dar uma satisfação, mudam tudo e o primeiro ‘bode expiatório’ é o gestor”, critica Ocimar Bolicenho.

Outra situação destacada pelo dirigente é o vai e vem de clubes ditos pequenos na Série A do Campeonato Brasileiro, como o Atlético/GO, Vitória, Avaí e Figueirense dentre outros. “Os clubes se projetam para uma competição e dão tudo o que têm para alcançar o objetivo. Os orçamentos ‘estouram’ por conta de altos salários, polpudas premiações e isso interfere diretamente no planejamento da equipe de um ano para outro. O clube sobe da Série B para a A já chega recebendo pouco por ser ‘calouro’ e ai vem o ‘X da questão’: como montar um time capaz de se manter na elite e buscar algo além? É complicado e por isso muitos ficam uma temporada e logo são rebaixados como foi agora o CSA/AL. A exceção foi a Chapecoense/SC que ficou por cinco anos na Série A, porém o acidente de 2017 deixou sequelas profundas e culminou agora com a queda para a Série B”, argumentou Bolicenho.

FUTURO

Com a pandemia, muitos clubes vão ter que buscar uma mudança drástica para sobreviverem no mundo esportivo, é o que pensa Ocimar Bolicenho. “O caminho passa pela profissionalização total e isso inclui os dirigentes estatutários porque a visão que se tem, a forma que se administra é muito mais racional e haverá um equilíbrio na tomada de decisões. Não se tem fórmula pronta para o sucesso. O sucesso depende muito da união de todos em prol de um clube e logicamente começar um projeto e acreditar nele. Esse é o caminho, pois do contrário, muitos clubes ficarão para trás condenados à extinção fatalmente”, afirmou.


Foto: Gustavo Oliveira/Londrina Esporte Clube

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